sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Desejo II

Um tanto mais apaixonada e ardente. Eis o meu horizonte em relação a vida. Se em toda a chama sempre há o que arde, queima e por vezes consome, por outro lado há ainda uma possibilidade de, assim como a fênix, renascer a cada dia.
Compreender isso o que move? Talvez seja esse um sentido, mas daquilo que sou capaz de dar conta, ainda há falta!


O que é essa coisa outra?
Se o que desejas é, nesse instante, aquilo que não quero e o que agora desejo, nesse exato momento, já não é o teu querer; será esse desejo outro, ainda meu?
Daí uma inquietante aflição, pois encontrar a coisa outra parece que requer movimento duplo. No movimento convexo o refletido é exteriorizado e o que se passa é que olho somente para fora. Neste movimento sou capaz de até mesmo apontar em outra direção. No entanto, a visão de fora não permite ver o que se passa com o irrefletido. O côncavo, por sua vez é perspicaz, aparentemente mentiroso e até mesmo cruel, pois ele acusa apontando para si mesmo. Nietzsche certa vez afirmou: [...] “Queres procurar o caminho de ti mesmo?” [...]“Quem procura, facilmente se perde a si mesmo.” (Zaratustra, p.89).
A questão que me instiga é precisamente essa: se o rumo na própria direção é também o caminho para a angústia, estarei forte o suficiente para, ao invés de perder-me, ganhar a mim mesma?
Com “honestidade” penso que sim, pois aqui há a possibilidade de escolha, isto é, assumo a responsabilidade por minha vida e me torno um indivíduo de fato, ou permaneço na sedução narcísica e irrefletida; essa mesma que não se deixa ver, pois do mesmo modo que se mostra, também se oculta... Dessa escolha, porém, resulta a possibilidade de uma nova consciência, ou até mesmo uma espécie de renascimento. Contudo, não significa afirmar que eu esteja em condições. Sob este aspecto, no Conceito de Angústia Kierkeggard, p.19, afirma que [...] “A Ética mostra a idealidade como tarefa, e pressupõe que o homem esteja de posse das condições.”
Entretanto, é neste ponto de consciência que o desejo parece emergir como um traço incomensurável da própria falta. Se assim o for, isto é, uma vez extirpado o egocentrismo, será a coisa outra o próprio impossível?
Talvez, mas é também isso o possível, pois nesse querer sou eu mesma a movente e também movida, finalmente livre e responsável. Agora sim posso afirmar “eu mesma!”
Desmedido querer de pleno gozo é o desejo e o que parece ser corpo apenas, não o é. É sempre algo mais; agora sei que dele já não posso ceder. Nele e por ele é que me lanço nesse horizonte apaixonado e inquieto. Mais ainda, para além dele sou criação e sentido, invenção e arte.
Nessa repetição vou de encontro comigo mesma, transformo, reinvento e renasço um pouco mais amorosamente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário