terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Cômico


É preciso duvidar de tudo, já afirmava Descartes em sua dúvida metódica. A partir daí eis o significado do real, pois todo o saber (inclusive sobre o sujeito) pressupõe como condição um método, ou seja, também no sujeito a soma das partes é igual ao todo.

Muitos ainda hoje, precisamente porque julgam que sabem,
o outro, eles julgam...


lamento,
mas preciso antes,
brincar...

Como diria Kierkegaard, todo o desconfiado é na verdade um cômico, pois esconde o si mesmo por trás de uma metodológica e pretensiosa certeza. Enquanto pura objetividade se sabe, quero dizer, apreender o que na “verdade" se passa é saber tudo sobre o outro, afinal, quando se é desconfiado é que de fato se sabe.

Sem a mesma pretensão, uma vez mais
o meu riso...

Renunciar a maldosa consciência, isso sim parece loucura, afinal, quando para o sujeito o real é tão somente racional,
eis o cômico.


..................


L’ironie logique fait saillir l’absurdité latente, ainsi l’ironie éthique fait éclater les scandales invisibles, car le scandale est l’absurdité pour un libre vouloir comme l’impensable absurdité est le scandale pour la raison. L’ironie morale laisse la mauvaise conscience s’enferrer, développer jusqu’à l’absurde les conséquences de ses prétextes, pour qu’elle demande grâce. Plus les prétextes sont faibles, plus la conscience honteuse se montre follement logique dans ses déductions et largement vulnérable à l’ironie : le scandale démasqué meurt d’être soi-même. (JANKÉLÉVITCH, L’ironie, p.101 e 102)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Melancolia


Hoje, por você,
uma certa melancolia.
Em teus gestos, olhar e palavras há
agitação e rancor,
desconfiança
com você, no mundo em você,
desespero...
E já não há nada que eu possa dizer ou fazer,
silêncio...
Silêncio pode ser melancolia,

pode ser também quietude e serenidade...
mas pode ainda que seja amor.


...

"Se não podes falar àqueles que estão envinagrados, serve-os em silêncio e na humildade, sem jamais desesperar." (DOSTOIÉVSKI, Irmãos Karamázovi: Extratos conversações do "Stáriets" Zósima, p.235).

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A responsabilidade indissociável a todo o dizer.


Sempre que reflito sobre determinado tema sou logo tomada pela inquietação de não apenas comunicar, mas a partir disso produzir questões que suscitem a criticidade por parte do leitor. Frustração seria se em tais reflexões obtivesse apenas uma espécie de consenso, ou seja, a imediata concordância para os pressupostos abordados.
Se toda a compreensão somente é possível diante de “pré-supostos”, ou seja, conhecimentos previamente estabelecidos, então a interpretação deve partir sempre de um posicionamento que não o meramente passivo. Contudo, não significa afirmar que um posicionamento possa ser considerado ativo pelo simples fato de que são validados por determinada maioria. Sob este aspecto podemos perceber que, de um modo amplo, determinadas programações televisivas ainda exercem essa função, ou seja, parecem não provocar contrapontos reflexivos senão idênticos aos do senso comum.
Estou ciente de que sempre haverá, em algum lugar, capacidades compreensivas maiores e melhores do que as minhas; contudo, não significa que cessem as minhas inquietações no sentido de questionar sempre. Mas o que de fato me inquieta é que se no “dizer” pressupõe-se um saber, então na medida em que esse dizer aprova ou refuta determinados pontos de vista, ele autoriza-se no sentido de exercer influências. É precisamente nesse sentido que ao partilhar determinados pressupostos não posso me liberar da responsabilidade diante desse meu leitor. Diante do meu próprio inacabamento e da consciência de que sou apenas travessia, preciso me isentar da pretensão de formular opiniões, sem antes buscar “aclarar” conceitos. Esclarecer conceitos significa aqui questioná-los, obviamente, a partir do meu contexto interpretativo sem deixar de considerar suas “re-significações” decorrentes do processo histórico.
Minha liberdade se manifesta na medida em que busco apreender novas possibilidades interpretativas, mas à medida que compreendo cresce a minha responsabilidade, pois necessito agora também comunicar. É precisamente nesse sentido que acredito em um processo compreensivo que se diga emancipatório, isto é, capaz de abrir mão da irreflexão ou do mero assentimento, para ceder lugar a uma análise crítica e questionadora a partir de si mesmo enquanto intérprete. Além da sujeição, acredito, somos capazes de ceder lugar ao simplesmente dado, a simples passividade para nos tornarmos sujeitos questionadores, críticos e conseqüentemente ativos no mundo. Essa consciência é em mim mesma a movente, pois sempre e a cada novo dia, sou movida pelo crescente desejo de comunicar; preciso dizer, por isso escrevo.

sábado, 20 de agosto de 2011

Te tornas eternamente responsável por aquele que cativas.


Recentemente lendo uma colunista conterrânea, cujas crônicas aprecio, o recorte reflexivo proposto era precisamente este: “És eternamente responsável por aquele que cativas”. Como um questionar para esta afirmação, ela traz como contra-argumento uma possibilidade própria de escolha: “me concedo o direito de não me sentir responsável por aquele que cativo”. Acrescenta ainda, o que justifica a sua autenticidade, que o sentimento diante desse outro por ela “cativado” é de gratidão e envaidecimento, “mas responsável é um tantinho demais.”
Esclareço desde logo, que o objetivo não é aqui criticar a nossa cronista, ao contrário, a proposta é trazer, como contraponto, um outro viés reflexivo. Compreendo e respeito este “ponto de vista”, sobretudo por entender a dimensão que tem hoje o significado da palavra liberdade para os indivíduos. Também pelo fato de que estou convencida de que toda a compreensão somente é possível a partir dos “pré-conceitos”, quero dizer, algo presente em nossas crenças (aquilo que aceitamos como verdade). Nesse sentido o que nos conduz a interpretação não está dissociado do contexto mesmo em que estamos inseridos enquanto intérpretes.
Meus leitores podem estar questionando: afinal, onde ela quer chegar com estas afirmações?
Sabemos que Antoine de Saint-Exupéry, em seu livro “O Pequeno Príncipe”, fez-se conhecido sobretudo por esta reflexão que diz: “Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé”. Este livro, que somente teve a sua publicação na frança em 1945, em virtude do exílio de Exupéry nos EUA, oferece, entre tantos sentidos possíveis, a possibilidade de mostrar uma profunda mudança de valores. O autor parece provocar o seu leitor, pois sugere o quanto podem ser equivocadas as nossas interpretações e julgamentos diante das coisas, das pessoas e do mundo. Sob este aspecto, o autor nos faz pensar em que medida estes julgamentos mesmos podem nos conduzir a solidão.
Num tempo em que já não se fala de valores como o amor, senão de um modo pragmatista, mas que por sua vez se prega a ideia do “politicamente correto”, contraditoriamente essa afirmação de Exupéry soa aos indivíduos, no mínimo, sujeita a contestações.
Entretanto quando reflito na esteira de Lévinas, por exemplo, pensar este outro que me olha e que por sua vez me interpela, ele o faz independente do meu querer. Não tenho domínio e controle, pois ele me chega, sou abordada por ele. Vemos aqui a dimensão da liberdade de que nos falava Sartre: “estamos condenados a ser livres”, livres para escolher.
No entanto, sair do “senso comum” significa sobretudo refletir com rigor sobre determinados recortes nas falas dos sujeitos. Sob estes aspectos, se tirarmos a dimensão da responsabilidade que não está dissociada da liberdade, toda e qualquer possibilidade de liberdade torna-se solipsista, ou seja, como uma mônada fechada em si mesma. Para escaparmos a esse senso comum, é preciso sobretudo um retorno sobre si mesmo, ou seja, um olhar que consegue ver para além do meramente eu mesmo. Com esse olhar, é possível, vejam, (diante da contingência dos sujeitos não posso afirmar que aconteça de modo necessário) mas é possível que suscite a consciência da incomensurabilidade que há em nós mesmos. Esse indizível, sempre e a cada vez suscitado por nosso desejo de vida, é o que nos lança alhures, nos move em direção ao futuro rumo a realização de nossos projetos.
Neste ponto de minhas argumentações pode parecer contraditório, pois falar de sujeitos requer a compreensão de que há em cada indivíduo as suas particularidades e por isso mesmo ele é e será sempre singular. Contudo, o paradoxo da nossa condição de sujeitos é que em cada singularidade há a mesma dimensão incomensurável, quero dizer, sob este aspecto, de uma maneira ou de outra, é o que nos faz idênticos. Este rasgo em nós, essa falta mesma que nos lança rumo aos nossos projetos, aspirações e sonhos, já não nos torna diferentes desse outro que nos interpela e que cativamos. Não. Sob este aspecto somos iguais e não há o que me torne melhor ou pior do que esse outro que me interpela.

Eis-me aí, diante da minha liberdade de escolher, tornar-me ou não responsável. Somos livres e, portanto, somos o resultado de nossas escolhas.

Sendo assim, consciente da própria facticidade, minha expectativa é de que tenha conseguido provocar um contraponto reflexivo. Proponho então que pensemos, talvez além da frase que deu origem a estas questões, também outra presente no mesmo livro, que diz: “Mais les yeux sont aveugles. Il faut chercher avec le coeur.” Ou seja, Mas os olhos são cegos. É preciso procurar com o coração.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

"A moral é da ordem do afeto". Luiz Felipe Pondé

Os pressupostos que abordaremos a seguir podem ser entendidos, sobretudo como uma proposta ética para a existência; quiçá uma alternativa possível para a constituição de novos sujeitos, pois em um sentido amplo a moralidade não abre mão da obscuridade pretensiosa e totalitária, quero dizer, de uma objetividade que ao fim se torna petrificada. Vivemos em uma sociedade que prega o “politicamente correto”, mas contraditoriamente, produz uma massa acéfala, submete. Talvez aqui uma alternativa da ordem dos afetos, esses que somente podem emergir de nossos próprios abismos, possam se tornar a luz que brilha no escuro.
Enquanto pesquisadora do filósofo dinamarquês, minha proposta hoje é partilhar com meus leitores deste artigo de Luiz Felipe Pondé:


Nunca ter amado é uma forma terrível de ignorância

Título original: Meu irmão Kierkegaard

por Luiz Felipe Pondé para Folha

Quando você estiver lendo esta coluna, estarei em Copenhague, Dinamarca, terra do filósofo Soren Kierkegaard (1813-1855), pai do existencialismo. Ao falarmos em existencialismo, pensamos em gente como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus, tomando vinho em Paris, dizendo que a vida não tem sentido, fumando cigarros Gitanes.

O ancestral é Pascal, francês do século 17, para quem a alma vive numa luta entre o "ennui" (angústia, tédio) e o "divertissement" (divertimento, distração, este, um termo kierkegaardiano).

O filósofo dinamarquês afirma que nós somos "feitos de angústia" devido ao nada que nos constitui e à liberdade infinita que nos assusta.

A ideia é que a existência precede a essência, ou seja, tudo o que constitui nossa vida em termos de significado (a essência) é precedido pelo fato que existimos sem nenhum sentido a priori.

Como as pedras, existimos apenas. A diferença é que vivemos essa falta de sentido como "condenação à liberdade", justamente por sabermos que somos um nada que fala. A liberdade está enraizada tanto na indiferença da pedra, que nos banha a todos, quanto no infinito do nosso espírito diante de um Deus que não precisa de nós.

O filósofo alemão Kant (século 18) se encantava com o fato da existência de duas leis. A primeira, da mecânica newtoniana, por manter os corpos celestes em ordem no universo, e a segunda, a lei moral (para Kant, a moral é passível de ser justificada pela razão), por manter a ordem entre os seres humanos.

Eu, que sou uma alma mais sombria e mais cética, me encanto mais com outras duas "leis": o nada que nos constitui (na tradição do filósofo dinamarquês) e o amor de que somos capazes.

Somos um nada que ama.

A filosofia da existência é uma educação pela angústia. Uma vez que paramos de mentir sobre nosso vazio e encontramos nossa "verdade", ainda que dolorosa, nos abrimos para uma existência autêntica.

Deste "solo da existência" (o nada), tal como afirma o dinamarquês em seu livro "A Repetição", é possível brotar o verdadeiro amor, algo diferente da mera banalidade.

É conhecida sua teoria dos três estágios como modos de enfrentamento desta experiência do nada. O primeiro, o estético, é quando fugimos do nada buscando sensações de prazer. Fracassamos. O segundo, o ético, quando fugimos nos alienando na certeza de uma vida "correta" (pura hipocrisia). Fracassamos. O terceiro, o religioso, quando "saltamos na fé", sem garantias de salvação. Mas existe também o "abismo do amor".

Sua filosofia do amor é menos conhecida do que sua filosofia da angústia e do desespero, mas nem por isso é menos contundente.

Seu livro "As Obras do Amor, Algumas Considerações Cristãs em Forma de Discursos" (ed. Vozes), traduzido pelo querido colega Álvaro Valls, maior especialista no filósofo dinamarquês no Brasil, é um dos livros mais belos que conheço.

A ideia que abre o livro é que o amor "só se conhece pelos frutos". Vê-se assim o caráter misterioso do amor, seguido de sua "visibilidade" apenas prática.

Angústia e amor são "virtudes práticas" que demandam coragem.

Kierkegaard desconfia profundamente das pessoas que são dadas à felicidade fácil porque, para ele, toda forma de autoconhecimento começa com um profundo entristecimento consigo mesmo.

Numa tradição que reúne Freud, Nietzsche e Dostoiévski (e que se afasta da banalidade contemporânea que busca a felicidade como "lei da alma"), o dinamarquês acredita que o amor pela vida deita raízes na dor e na tristeza, afetos que marcam o encontro consigo mesmo.

Deixo com você, caro leitor, uma de suas pérolas:

"Não, o amor sabe tanto quanto qualquer um, ciente de tudo aquilo que a desconfiança sabe, mas sem ser desconfiado; ele sabe tudo o que a experiência sabe, mas ele sabe ao mesmo tempo que o que chamamos de experiência é propriamente aquela mistura de desconfiança e amor... Apenas os espíritos muito confusos e com pouca experiência acham que podem julgar outra pessoa graças ao saber."

Infelizes os que nunca amaram. Nunca ter amado é uma forma terrível de ignorância.

> Espécie humana sumirá sem deixar 'fóssil' do seu fracasso afetivo.
abril de 2011


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Velha Infancia em LIBRAS


Velha Infancia - Tribalistas (Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown)
Performance em Libras - Naiane Olah (@NaiaNeOlaH)
Vídeo - Lívia Vilas Boas
Realização - Fundação de Rotarianos de São Paulo, Escola para Crianças Surdas Rio Branco e Colégio Rio Branco

Categoria:
Música
Palavras-chave:
libras língua de sinais música tribalistas velha infância
Licença:
Licença padrão do YouTube

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A voz, o dizer e a presença


Presença bem pode ser o ser, mas é possível que seja ainda ausência.
A voz que subjaz ao dizer é ainda murmúrio. Como o suspirar que é tanto clamor quanto lamento, a voz é também sopro, aspiração e renúncia. Todo o dizer se mostra, mas naquilo que se oculta há ainda a voz.
Suspiro é, pois, como a voz: presença lançada alhures, pranto sem lágrimas, sorriso sem riso, é inquietude... A voz, assim como o suspiro, é o que sempre me escapa.
Ser para a vida, ser para a morte:
Cotidiano esquecimento é fuga, pois a ausência de si é também medo.
Presença, por sua vez, requer coragem, a entusiasmada paixão do enfrentamento é tornar-se, sobretudo si mesmo. No entanto, em tempo de presenças iguais em que a marcha segue irrefletida, a ausência torna-se presença enquanto a consciência do seu contrário sugere uma espécie de loucura.
Ausência pode ser carência apenas, mas pode ser ainda a consciência de que a falta (essa que mostrando se oculta) é também presença. Liberdade é, pois, poder escolher e tornar-se si mesmo é sobretudo responsabilizar-se.


Angústia é cura.

...
Um ensaio? Não. Esboço apenas... fragmentos de uma despretensiosa re-leitura hermenêutica em Heidegger...
...

Referências:
HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo; tradução revisada e apresentação Márcia Sá Calvalcanti Schuback; Petrópolis: Vozes, 2006.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Metamorfose de Narciso


Recentemente dialogando com um dependente químico em tratamento, escutei que em determinadas “palestras motivacionais” que visam a reabilitação destes sujeitos, há um discurso que, não sem assombro, tenho escutado com certa frequência. A ausência de espanto se dá pelo fato de que já é possível encontrá-los (argumentos mesmos) nos refrões da nossa “música popular”, que a esse exemplo diz:


Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu... agora é assim
Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu... vou cuidar de mim
Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu... agora é assim
Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu... vou cuidar de mim

A "vantagem aparente" é que essa persuasão automatizada parece exercer dupla função: além de "motivar" e colocar o sujeito “novamente na certeza” há ainda a possibilidade de apreender uma nova conjugação verbal, pois diz e faz dizer:
1ª pessoa: EU
2ª pessoa: EU
3ª pessoa: EU
Aqui o que se passa é que o “tu” e o “você” são logo excluídos. O que dizer então do deslembrado OUTREM?
Há neste dizer, me parece, o pressuposto de que se exerce uma “reflexão sobre si”, quando a ambigüidade consiste precisamente no fato de que é na “irreflexão sobre si” que o egoísmo prevalece.
Ora, se na reconstrução de novos significados o sujeito não encontra significantes que façam laço com o outrem: campo dos afetos, como pressupor que ali se instaure a possibilidade de relações senão exclusivamente duais?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Diferente de autoajuda


Filosofia é crítica conscienciosa, rigorosa hermenêutica que envolve não somente textos escritos, mas também tudo que há no processo interpretativo. Filosofar é o questionar constante, um inquietante instigar a si mesmo a partir de fundamentos. Implica necessariamente pensar, não um pensar apenas, mas enquanto tarefa é a reflexão sobre fundamentos teóricos, indissociáveis para esta análise, sobretudo o contexto histórico, social e cultural em que se fundam. Daí uma razão para jamais criticar este ou aquele teórico. Como afirmava Kierkegaard, é o mesmo que comprar o livro, não ler página, e guardá-lo na estante como um troféu. Pensar é como ruminar, é retorno sobre si mesmo, requer, pois, introspecção e prospecção, avanço e recuo, senso crítico, consciência de si, humildade. Diferente da autoajuda, a filosofia parte da dúvida e da incerteza; na medida em que questiona, as respostas não aparecem dispostas como nas bulas de medicamentos, quero dizer, assim como para a vida não há receitas acabadas, pois somos travessia, também a filosofia não se presta às conferências motivacionais. Filosofar é, pois, como a ponte: rompimento e inquietude, clamor e murmúrio, fuga de si e medo, mas é também curiosidade, coragem, reconciliação e reencontro.