quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Quando a dúvida é agora a ironia dominada.

Vertigem

Este algo outro, avesso e inquieto, sempre
em busca de mais, o adverso
desejo...
Sussurra aos ouvidos, morada em meu ventre
e entranhas,
murmúrios...
No salto o instante: eu mesma;
não mais o reverso,
apenas.
...
Diferente da dúvida, a ironia dominada é guia para o caminho:

[...] Na dúvida, o sujeito quer constantemente ir ao objeto, e o seu infortúnio está em que o objeto foge constantemente diante dele. Na ironia, o sujeito quer constantemente afastar-se do objeto, o que ele consegue ao tomar consciência a cada instante de que o objeto não tem nenhuma realidade. Por isso, quando a ironia suspeita de que por trás do fenômeno tem de esconder-se algo de diferente daquilo que está no fenômeno, o cuidado da ironia é sempre que o sujeito se sinta livre, de modo que o fenômeno não adquira realidade para o sujeito. (KIERKEGAARD, O Conceito e Ironia, p.223)


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Vida Seca

Aos apreciadores do "verdadeiro belo literário", partilho, uma vez mais o dizer poético do professor Nedel:


Vida Seca


Quem se não satisfaz com menos que o ideal,
Por uma perfeição platônica enlevado,
Não fugirá de ser perpétuo torturado,
Roendo a falta como perda essencial.


O humano bem não foi jamais transcendental,
Porém composto de virtude e de pecado,
Um tecido com belo e feio misturado,
Nada que sinalize a perfeição final.


Desejo mais modesto, ao longo desta vida,
Torna a existência muito menos dolorida:
Calvários não terá de angústias nem de dor.


Quem despreza a mulher que a sorte lhe destina,
Por não ter a sonhada essência feminina,
Se condena a uma vida seca sem amor.


“Contentai-vos com o que tendes” (Hb 13,5).
“Beija aqueles que a sorte te destina” (Espanca, 2002, p.100).


NEDEL, José. A Vez do Verso: Sonetos, Edigal, Porto Alegre, RS, 2011, P.71.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dois pólos.


Chuva lá fora, vida, reverbera
a plenitude da alma amargurada, tua.
Queres de mim a perfeição ou
será ainda espelhamento teu?  meu lamento, talvez.
Escolhas próprias responsabilizam, não as lamento.
Saibas, pois, bondade em mim é imitação, apenas. Não sou anjo. Sou dívida eterna. É em "minhas entranhas que Deus vive".
Meus demônios é aqui mesmo, em minha interioridade, que exorcizo.
Sou luta de contrários,
dois pólos.
Esforço, apenas.



Chuva mansa lá fora. Aqui, vigorosa vida. 
Nada seria sem partilha, construção, re-construção 
e esforço,
também.

............

Quem não ousa apostar num ente que é finito,
à espera de comparte ideal, não mais que mito,
Parte infeliz da vida, por não ter amado.
(Professor Nedel, p.67)

NEDEL, José. A Vez do Verso: sonetos, Edigal, 2011.

domingo, 8 de janeiro de 2012

DE LA SERVITUDE MODERNE - J.F BRIENT

Neste vídeo temos uma pequena mostra do filme “De La Servitude Moderne” (Da servidão moderna) de Jean-François Brient que trata precisamente sobre o sistema de mercado constituído na modernidade, reconhecido como “democrático.” Aqui a possibilidade inicial de refletir sobre si mesmo, quero dizer, sobre o próprio posicionamento e, quiçá “engajamento” sobre as questões sociais e políticas. “Da servidão moderna”: um bom caminho, talvez, para pensar alguns mecanismos de “escravidão voluntária”, ou seja, servidão consentida, característica das grandes massas. Aliás, algumas das falas presentes no filme parece remeter ao pensamento nietzschiano que, já no século XIX, referia as massas utilizando a expressão “rebanho”.
A questão, no entanto, não é aqui condenar os processos de evolução tecnológica, mas sim questionar: liberdade, o que é? afinal, quem está no comando?
Aqui, apenas um "instante", mas vale conferir o filme na íntegra.