domingo, 5 de agosto de 2012

Kierkegaard «avant la lettre»

Em minhas leituras últimas, atualmente “Os Conceitos Fundamentais da Metafísica: Mundo, Finitude e Solidão”, de Martin Heidegger, estou encontrando reflexões valiosas sobre o “ser do homem” e as possibilidades para uma existência que não apenas aquela que ele denomina “inautêntica”. Aqui é até possível brincar com a afirmação de que Kierkegaard, sem dúvida, leu Heidegger «avant la lettre», quero dizer, desconsiderando “Chronos” em seu aspecto cronológico/temporal.

Kierkegaard, em sua fina ironia, utiliza muito a expressão “palavrório” para distinguir o “dizer” apenas, do decisivo “agir” de fato. Heidegger trata, no sexto capítulo, da “inautenticidade” enquanto fuga do “instante” (como em Kierkegaard: sempre decisivo ao existente) e também da possibilidade de engajamento do ser-aí (sujeito) no mundo.
Aqui, portanto a proximidade nas reflexões:

[...] À medida que, para o entendimento vulgar, o que o ente é propriamente aponta para o que está simplesmente dado, ele não vê a autenticidade da existência senão no fato de a relação com a morte estar desde e sempre simplesmente dada em meio ao pensamento constante nela.
Já se considera desde o princípio nesta postura fundamental, da qual nenhum de nós tem o direito de se dizer livre, que o caráter fundamental da existência, do existir do homem, reside na “decisão”, mas que a decisão não é um estado simplesmente dado que eu tenho. Ao contrário, é ela que antes me tem. Todavia, a decisão enquanto tal sempre só é o que é enquanto “instante”, enquanto instante do agir real.” (HEIDEGGER, p. 338)