quarta-feira, 25 de maio de 2011

Laura Pausini - Nei giardini che nessuno sa

Canção de Renato Zero, dedicada àqueles que não vemos...




(...)Te daria meus olhos para que você veja aquilo que não vê,
A energia, a alegria pra conseguir ainda sorrisos.
Diga sim, sempre sim e para conseguir alçar um vôo
Pra onde quiser, pra onde souber
Sem aqueles pesos no coração.
Esconda nas nuvens aquele inverno que te faz mal,
Cure as feridas e depois
Algum dente a mais pra comer.
E depois se olhe sorrindo,
E depois se veja ainda correndo.
Esqueça, há quem esqueça
Distraidamente uma flor,
Um domingo.

E depois silêncio,
... e poi silenzi...



[...] Sim, vai ainda uma vez ao encontro dos mortos, para desse lugar olhar a vida de frente... (KIERKEGAARD,p.66, 2004)

KIERKEGAARD, Sören Aabye. . Do desespero silencioso ao elogio do amor desinteressado: aforismos, Novelas e Discursos de Sören Kierkegaard. Organizador, tradutor e apresentador: Álvaro Luiz Montenegro Valls. Porto Alegre: Escritos, 2004.

domingo, 22 de maio de 2011

O horizonte: sempre ele mesmo, um horizonte?

Enquanto ele mesmo, isto é, sempre alhures, o horizonte pode ser a consciência da própria incompletude; Sendo consciência, parece suscitar em nós o desejo enquanto pulsão de vida. Inesgotável, aliás, pois tão logo alcançamos um objetivo, lá está ele novamente, o desejo, à luz do que parece um novo horizonte. Há aqui a possibilidade de criação da vida enquanto arte.
Nesse sentido, enquanto reflito sobre mim mesma, ou seja, quando olho para a própria interioridade, o que vejo é que há um rasgo cujo indizível me lança para uma espécie de aspiração para o infinito. Aliás, a ideia de felicidade parece estar mesmo ligada ao ideal de completude.
Mas será possível pensar o finito no infinito? Posso pensar que o infinito contém o finito? E o contrário: o finito contém o infinito? Neste ponto, Kierkegaard talvez afirmasse que “fazer contabilidade com uma grandeza infinita é impossível, pois calcular é exatamente tornar finito.”
Como, então, pensar o infinito sem recorrer alhures? Para a razão, esta questão parece mesmo um “escândalo”.
Por outro lado, talvez, paixão seja mesmo isto, quero dizer, perseguir entusiasmadamente os próprios sonhos distinguindo neles sua inexaurível fonte. Reconhecer os limites da própria razão pode ser, para alguns, escândalo, mas é também escolha.
Por outro lado, é preciso lembrar que a paixão, quando exacerbada, tem uma característica absoluta, quero dizer, egoísta, pois ela sempre exclui o outro. Sendo assim, ela oculta em si mesma a porção de sofrimento (toda paixão requer também o sofrimento) e se deixa ver apenas enquanto ideia de completude. Acaso quando nos apaixonamos o mundo inteiro não nos parece perfeito?
Enquanto reflito sobre mim mesma, meus sonhos, projetos e desejos, a liberdade parece mesmo possível, mas quando observo com sincera honestidade percebo que é ainda amor próprio unicamente. Ora, quanto as minhas próprias escolhas, já não tenho dúvidas de que sou e serei sempre responsável. Mas a liberdade, nesse sentido, pode tornar-se meramente unilateral. A questão que proponho pretende ir um pouco além, quero dizer, a possibilidade de liberdade diante do outro. A questão se torna complexa quando dou conta de que sempre há um outro que me interpela e que, por sua vez, também me faz responsável. É neste ponto que a questão da liberdade parece mesmo ficar enredada.
Pensar que há no outro a mesma dimensão de incomensurabilidade, algo que está sempre alhures, quero dizer, pressupor que há também no outro o mesmo desejo de infinito, faz questionar sobre a idéia que tenho da liberdade enquanto possibilidade.
O fato é que precisamos escolher e, mesmo que não saibamos, somos e seremos sempre responsáveis. A questão não é apontar aqui para o que seja “moralmente correto”, isto é, distinguir entre o certo e o errado, mas sim pensar a ação como uma questão de consciência. Não importa qual seja a escolha, seja ela uma decisão enredada, tolhida, ou ainda unilateral, será sempre uma possibilidade de liberdade.
Em que sentido, então, a liberdade enquanto possibilidade é mesmo sempre tolhida, embaraçada? Se a decisão é sempre individual, então preciso acreditar em uma “verdade”, mas se essa verdade é minha, em que sentido ela se torna individualista?
Aqui, podemos pensar no pressuposto kierkegaardiano de que “uma verdade que seja verdadeira para mim” soa meramente individualista quando retiramos dele a dimensão paradoxal, ou seja, essa aspiração que sentimos para o infinito, um desejo de plenitude que não cessa de se inscrever e que a razão não dá conta de pronunciar.
Nesse sentido, pensar a liberdade diante desse outro que inevitavelmente me interpela, parece requerer sempre um olhar de acolhimento. Acolhimento que somente é possível mediante um “recolhimento” inicial, pois a consciência do desejo que há em mim, já não me faz diferente do outro, ao contrário, sob este aspecto, somos exatamente iguais. E a igualdade está precisamente na dimensão incomensurável.

...

sábado, 21 de maio de 2011

Segunda ética: a dialética da comunicação ética e etico-religiosa.

Em 1847, Kierkegaard publica "As Obras do Amor"; considerações em formas de discursos que apontam para o que seria a proposta de uma segunda ética: o amor enquanto prática. Conforme Valls, (...) "O amor cristão é comparado com o amor apaixonado platônico e a amizade aristotélica. O poeta elogia o amor apaixonado, sem saber como e por que o amor precisa transformar-se em dever." Amar a si mesmo é natural, mas há um acréscimo: ama a teu próximo "como amas a ti mesmo." Aqui, uma possibilidade de vencer o egoísmo, pois o outro não é o segundo eu, mas sim o "primeiro tu". Sob este aspecto, o amor é maior do que a fé e nesse sentido, só ele permanece... dialética do amor enquanto possibilidade ética.



Sobre esta obra, tive a oportunidade de elaborar um estudo mais detalhado e específico em que buscava aproximações com O Idiota de Dostoiévski. Deste estudo, fonte de minhas pesquisas para a monografia, publiquei um artigo e, posteriormente, postei aqui no blog sob o título: Idiota? das correlações arquetípicas à perspectiva filosófica - Kierkegaard e Dostoiévski;


Minha proposta hoje é partilhar um pouco da primeira série do livro, em que Kierkegaard dá início as suas considerações:



Prière

Comment pourrait-on parler convenablement de l’amour si l’on T’oubliait, ô Dieu d’amour, de qui procède tout amour dans le Ciel et sur la Terre, Toi qui n’as rien épargné, mais qui as tout donné dans l’amour, Toi qui es amour, si bien que celui qui aime n’est ce qu’il est qu’en étant em Toi! Comment pourrait-on parler convenablement de l’amour si l’on T’oubliait, Toi qui as révélé ce qu’est l’amour, ô notre Sauveur et notre Rédempteur, qui T’es donné Toi-même pour sauver tous les hommes! Comment pourrait-on parler convenablement de l’amour si l’on T’oubliait, Esprit d’Amour, Toi qui ne réclames rien de ce qui est à Toi, mais qui rappelles le sacrifice de Celui qui fut amour, Toi qui rappelles au croyant d’aimer comme Il est aimé et d’aimer son prochain comme lui-même! O Amour éternel, Toi qui est partout présent et qui Te manifestes toujours lorqu’on T’invoque, ne sois pas non plus sans témoignage dans ce que l’on dirá ici de l’amour ou des oeuvres de l’amour, Car elles sont vite comptées, certes, lês oeuvres que Le langage humain appelle spécialement et bien petitement lês ouevres de l’amour; mais au Ciel, nulle oeuvre ne peut être agréable si elle n’est une oeuvre de l’amour, sincère dans la renonciation à soi, répondant au besoin de l’amour et, pour cette raison justement, sans prétention de mérite!



KIERKEGAARD, Sören. Les Oeuvres de l’amour – La dialectique de la communication éthique et éthico-religieuse ; Traduction de Paul-Henri Tisseau et Else-Marie Jacquet-Tisseau ; Oeuvres Complètes, Éditions de L’orante, 1980.



Oração
Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses esquecido, ó Deus do Amor, de quem provém todo o amor no céu e na terra; Tu, que nada poupaste, mas tudo entregaste em amor; Tu que és amor, de modo que o que ama só é aquilo que é por permanecer em Ti! Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses esquecido, Tu que revelaste o que é o amor; Tu, nosso salvador e reconciliador, que deste a Ti mesmo para libertar a todos! Como se poderia falar corretamente do amor, se Tu fosses esquecido, Espírito de Amor, que não reclamas nada do que é próprio Teu, mas recordas aquele sacrifício do Amor, recordas ao crente que deve amar como ele é amado, e amar ao próximo como a si mesmo! Ó, Amor Eterno, Tu que estás sempre presente em toda a parte e nunca deixas sem testemunho quando Te invocam, não deixa sem testemunho aquilo que aqui deve ser dito sobre o amor,ou sobre as obras do amor. Pois decerto há poucas obras que a linguagem humana,específica e mesquinhamente, denomina obras de amor; mas no Céu é diferente, aí nenhuma obra pode agradar se não for uma obra de amor:sincera na abnegação,uma necessidade do amor,e justamente por isso sem a pretensão de ser meritória!




KIERKEGAARD, Sören; As Obras do Amor - Algumas considerações cristãs em forma de discursos; Tradução de Alvaro L.M. Valls e revisão de Else Hagelund; Editora Vozes, 2005.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Poeta 2


Por que a perene fuga às montanhas,
Trilhando estradas íngremes e duras?
- Não fica ao chão de insípidas campanhas
O poeta - apenas vive nas alturas.
(Professor Nedel, 2009)

"Há um cansaço do pensamento banal" (Alvaro Valls. Zero Hora. Cultura, 15 jul.2006).


NEDEL, José. A curvatura da razão; Porto Alegre, 2009

domingo, 8 de maio de 2011

Inversão: a grande ironia

No que se refere ao pressuposto ético que diz respeito aos direitos e deveres que são meus, hoje a lógica parece mesmo invertida: enquanto os outros têm deveres, eu tenho somente direitos...
A grande ironia é que sempre há argumentos em que penso não apenas justificar como também convencer os outros e até a mim mesma, “razões” que isentam da responsabilidade que também “deveria” ser minha (?!) ...
o grande impasse: eis aí um modo prático de tentar justificar meu ódio diante da própria impotência, talvez, daquilo que não sou capaz de dar conta. Aliás, desespero é mesmo isto, quero dizer, é quando não mais amando a mim, duvido de tudo, dos outros, do mundo e até de mim mesma... e ao duvidar de tudo acabo perdendo, quiçá tenha algum dia encontrado, a paixão.


Nas "Migalhas Filosóficas" Kierkegaard fala um pouco a esse respeito: "Mais il ne faut pas penser de mal du paradoxe, passion de la pensée: le penseur sans paradoxe est comme l'amant sans passion, une belle médiocrité." (Mas não devemos pensar mal do paradoxo, a paixão do pensamento: e o pensador sem um paradoxo é como o amante sem paixão, uma grande mediocridade (um tipo medíocre)".


KIERKEGAARD, Sören, Miettes Philosophiques; Oeuvres Complètes, ed. de l’Orante, trad. Tisseau, v. 7, p. 35