quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A responsabilidade indissociável a todo o dizer.


Sempre que reflito sobre determinado tema sou logo tomada pela inquietação de não apenas comunicar, mas a partir disso produzir questões que suscitem a criticidade por parte do leitor. Frustração seria se em tais reflexões obtivesse apenas uma espécie de consenso, ou seja, a imediata concordância para os pressupostos abordados.
Se toda a compreensão somente é possível diante de “pré-supostos”, ou seja, conhecimentos previamente estabelecidos, então a interpretação deve partir sempre de um posicionamento que não o meramente passivo. Contudo, não significa afirmar que um posicionamento possa ser considerado ativo pelo simples fato de que são validados por determinada maioria. Sob este aspecto podemos perceber que, de um modo amplo, determinadas programações televisivas ainda exercem essa função, ou seja, parecem não provocar contrapontos reflexivos senão idênticos aos do senso comum.
Estou ciente de que sempre haverá, em algum lugar, capacidades compreensivas maiores e melhores do que as minhas; contudo, não significa que cessem as minhas inquietações no sentido de questionar sempre. Mas o que de fato me inquieta é que se no “dizer” pressupõe-se um saber, então na medida em que esse dizer aprova ou refuta determinados pontos de vista, ele autoriza-se no sentido de exercer influências. É precisamente nesse sentido que ao partilhar determinados pressupostos não posso me liberar da responsabilidade diante desse meu leitor. Diante do meu próprio inacabamento e da consciência de que sou apenas travessia, preciso me isentar da pretensão de formular opiniões, sem antes buscar “aclarar” conceitos. Esclarecer conceitos significa aqui questioná-los, obviamente, a partir do meu contexto interpretativo sem deixar de considerar suas “re-significações” decorrentes do processo histórico.
Minha liberdade se manifesta na medida em que busco apreender novas possibilidades interpretativas, mas à medida que compreendo cresce a minha responsabilidade, pois necessito agora também comunicar. É precisamente nesse sentido que acredito em um processo compreensivo que se diga emancipatório, isto é, capaz de abrir mão da irreflexão ou do mero assentimento, para ceder lugar a uma análise crítica e questionadora a partir de si mesmo enquanto intérprete. Além da sujeição, acredito, somos capazes de ceder lugar ao simplesmente dado, a simples passividade para nos tornarmos sujeitos questionadores, críticos e conseqüentemente ativos no mundo. Essa consciência é em mim mesma a movente, pois sempre e a cada novo dia, sou movida pelo crescente desejo de comunicar; preciso dizer, por isso escrevo.

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