segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Diferente de autoajuda


Filosofia é crítica conscienciosa, rigorosa hermenêutica que envolve não somente textos escritos, mas também tudo que há no processo interpretativo. Filosofar é o questionar constante, um inquietante instigar a si mesmo a partir de fundamentos. Implica necessariamente pensar, não um pensar apenas, mas enquanto tarefa é a reflexão sobre fundamentos teóricos, indissociáveis para esta análise, sobretudo o contexto histórico, social e cultural em que se fundam. Daí uma razão para jamais criticar este ou aquele teórico. Como afirmava Kierkegaard, é o mesmo que comprar o livro, não ler página, e guardá-lo na estante como um troféu. Pensar é como ruminar, é retorno sobre si mesmo, requer, pois, introspecção e prospecção, avanço e recuo, senso crítico, consciência de si, humildade. Diferente da autoajuda, a filosofia parte da dúvida e da incerteza; na medida em que questiona, as respostas não aparecem dispostas como nas bulas de medicamentos, quero dizer, assim como para a vida não há receitas acabadas, pois somos travessia, também a filosofia não se presta às conferências motivacionais. Filosofar é, pois, como a ponte: rompimento e inquietude, clamor e murmúrio, fuga de si e medo, mas é também curiosidade, coragem, reconciliação e reencontro.

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