terça-feira, 5 de julho de 2011

A possibilidade: aproximação


Intuir sobre o incomensurável que há em mim é sem dúvida o primeiro passo para a aproximação. Heráclito, em seu recolhimento próprio, soube bem apontar para o limite do Lógos. Em seu fragmento 45, que recebeu leitura e tradução de Heidegger, diz: “Ainda que tu percorras todo caminho, não poderás mais encontrar em teu curso os confins extremos da alma; tão vasto pousar/colheita/leitura (recolhimento) ela tem.
Em Heidegger encontramos uma poética explicitação da relação entre a consciência de si e a angústia sobre a realidade e a “verdade” do ser:


Compreender o ser quer dizer compreender o ‘fundamento’. Com-preender quer dizer aqui ‘ser compreendido no ser pelo ser’. Compreender significa a cada vez aqui mutação de humanidade a partir de sua relação essencial com o ser, mas primeiro que isto, a disponibilidade para esta mutação, mas antes a preparação desta disponibilidade, mas antes, a atenção para esta preparação e antes a incitação a uma tal preparação e antes um primeiro recolhimento no ser (GA 51,93).


A aproximação não está em outro lugar senão na temporalidade, isto é, em minhas próprias vivências, intimamente ligadas a linguagem e as limitações que tenho de enunciação sobre o que seja a “verdade”. Da cura, caminho que é único, porém sempre rasgado, dividido por uma diferença que interpela e atravessa meu ser, sigo agora somente em preparação. Sou travessia. Qual o antídoto? O futuro, esse desconhecido que, assim como a angústia, ainda é nada diante da “possibilidade”. Essa diferença que não dou conta e que me lança alhures é também o sopro mesmo que inspira, a fonte de apropriação e sentido. E eis que abandonada a certeza da certeza, essa que ainda é desespero, me lanço agora para os braços do possível.

L’ironie regarde ailleurs. (...) "Si nous voulons guérir le désespoir qu’est l’effet du blasement, nous devons nous simplifier et reprendre confiance das la spontaneité du coeur." (Jankélevitch, p.183)

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