segunda-feira, 4 de abril de 2011

Pragmatismo é também reducionismo.






Já no séc. XIX, Kierkegaard, em As obras do amor, afirmava (ironicamente) que sério é ganhar dinheiro, mesmo que seja vendendo seres humanos como escravos.


Parece que mudamos o contexto histórico, mas em nossos dias “ganhar dinheiro” enquanto sinônimo de felicidade, continua sendo ainda levado muito a sério.

Só que essa “pragmática seriedade” vemos hoje, por exemplo, no trabalho escravo infantil, no olhar totalitário e absoluto de alguns "supostos empresários" que a exemplo nos moldes do panoptismo, (modelo de vigilância e punição adotado nos campos de concentração nazistas) parecem ainda viver no século passado. Contudo, lamentavelmente, a sujeição dos indivíduos em virtude da necessidade, na maioria dos casos, parece ainda predominar.


Ora, sabemos que sem “moeda” não vamos muito longe e um “emprego” pode nos dar a possibilidade de uma vida digna. É possível, mas nem sempre ocorre de modo necessário. O emprego é necessário, mas a dignidade, (por vezes tolhida por alguns tipos ainda totalitários e completamente amoldados ao sistema capitalista) nem sempre é possível. Sob este aspecto não resta dúvidas de que o dinheiro é o movente do mundo. Impressiona, porém, o fato de que ainda muitos, com vistas à “felicidade”, são “movidos” por ele. Daí uma questão que me acossa: quem de fato está no comando? O sujeito ou o objeto? Aqui há ausência de sujeito, me parece, meramente sujeitado pelo objeto. De fato parece que evoluímos muito em termos de tecnologias, mas continuamos no espírito do mecanicismo que na modernidade via na metáfora dos relógios, por exemplo, a possibilidade de uma explicação reducionista, inclusive sobre a totalidade do homem. Aqui o pressuposto é de que o todo é igual a soma das partes. Parece que continuamos na crença das “certezas” predominante no positivismo, que supõe a passagem de uma “incerteza objetiva” (idéia de incompletude) para a “certeza objetiva” (idéia de completude).


Onde estão os sujeitos de nosso tempo?


Movidos pela “certeza”, me parece, pois o pragmatismo parece seguir esse pressuposto mesmo que tendo em vista o lado prático, torna-se reducionista, pois supõe também no sujeito que a soma das partes é igual ao todo. Nesse sentido, já que a verdade é individual e relativa, tomada por base no que se está vivendo ou necessitando no momento, então o que possa ser de interesse de um indivíduo pragmatista pode passar a ser destrutivo ou prejudicial a outrem que é atingido por sua decisão unilateral.


Eis aí um dos impasses do nosso tempo.

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