quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Pathos

Acredito no pressuposto de que pathos  somente existe na imperfeição que nos é própria. Nesse sentido, a ironia consiste precisamente no fato de que a nossa possibilidade amorosa  ampara-se sempre numa certa harmonia entre pathos  e  cômico. Aqui, minha concordância com Sören, quando da sua afirmação:
A existência mesma, o existir, é esforço, e é tão patética quanto é cômica; patética porque o esforço é infinito, i.e, dirigido ao infinito, é um processo de infinitizar, que é o mais elevado pathos; cômica porque o esforço é uma auto-contradição. (Pós-Escrito, Kierkegaard)

2 comentários:

  1. Não será isto um apelo à quietude? Para quê continuar se a irrisão dos nossos actos vulgariza imediatamente?

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  2. Caro Dionísio,
    Não! Ao contrário.
    É que a ironia kierkegaardiana, por vezes, parece tentar ao engano da seriedade demasiada... O que se passa é que todo o sujeito existente, em sua relação existencial com a verdade, é tão negativo quanto positivo, ou seja, tem tanto de cômico quanto essencialmente tem de pathos. Estamos continuamente em processo de vir-a-ser, “somos ponte”, ou seja, estamos nos esforçando. Este esforço, que não é um esforço continuado pela "verdade absoluta", diz respeito a um esforço ininterrupto enquanto expressão mesma da visão da vida que possui o sujeito existente. Como um antídoto mortal ao pedantismo e as pretensões de certeza, o bom humor é nesse sentido o consolo. Uma possibilidade para a lucidez que só pode emergir de nossos próprios abismos, do vazio que nos é inerente e que por sua vez não cessa de se inscrever diante de nosso desejo de plenitude. Mas é preciso lembrar: é só um desejo que sempre nos escapa. Não há no sujeito a pretensão de um saber conclusivo, pois sabemos que estamos em constante devir. Daí a possibilidade da "ação" que é sempre movida pelo pathos.
    Obrigada pela provocação.

    Um abraço

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