terça-feira, 27 de setembro de 2011

PACIÊNCIA - Chronos ou Kairos?

Necessariamente estamos todos submetidos ao aspecto quantitativo do tempo (Chronos) que em grego significa a duração de um movimento, o nosso tempo medido, cronológico. Os gregos da Antiguidade expressavam o tempo com duas palavras: Chronos e Kairos. A partir da modernidade, no entanto, impregnados pelo espírito mecanicista esquecemos de que Kairos significa o tempo da oportunidade, o tempo em potencial, eterno. Nessa pesrpectiva, esta melodia composta por Lenine e Dudu Falcão é uma excelente possibilidade de pensar sobre estas questões:
  


Enquanto condição da existência o tempo parece mesmo exigir demasiada pressa e afobados já não pensamos, nos tornamos impacientes e egoístas; aliás, é preciso estar atento, pois todo individualismo provoca uma espécie de cegueira. E ainda insistimos em acreditar que essa aparente “normalidade” é indissociável ao humano. Perdemos com essa irreflexão o significado do instante em que algo “especial” pode acontecer. No entanto, como nos diz a melodia, é preciso “um pouco mais de paciência”, pois parece que ninguém quer mesmo saber; pensar? nem pensar. Demasiada é a pressa. E assim contamos os dias que se tornam medíocres e simplesmente passamos pela vida com o sabor amargo do desencantamento do mundo. Sem o outro não há a possibilidade de acontecer algo que realmente importa. Tornamo-nos Sísifos a experimentar o absurdo da existência dia após dia. Mas há algo que clama insistentemente em nossa interioridade. Esse clamor é kairos, o tempo do possível, cujo murmúrio emerge de nossos próprios abismos como um sopro qualitativo. Aqui a qualidade significa que não basta saber sobre a incomensurável fluidez do tempo que sempre e inevitavelmente nos escapa. É preciso antes compreender que a vida é preciosa demais para evitar instantes que podem se tornar plenos de sentido. É na quietude que descobrimos que sem o acolhimento para com o outro não há a possibilidade de tais instantes, pois nos tornamos como as solitárias e indivisíveis mônadas. Diante da efemeridade da existência reconhecemos agora que junto aos dias simplesmente quantitativos podemos também “praticar” instantes que se eternizam. É a consciência da facticidade humana que agora emerge em nós como um sussurro e faz brotar o instante indeterminado: o instante em que as coisas que realmente importam acontecem. Aqui a “oportunidade” está justamente no modo como escolhemos. Eis aí uma possibilidade de sentido, um novo olhar em que Chronos (tempo) pode ser também Kairos (eternidade).

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