domingo, 22 de maio de 2011

O horizonte: sempre ele mesmo, um horizonte?

Enquanto ele mesmo, isto é, sempre alhures, o horizonte pode ser a consciência da própria incompletude; Sendo consciência, parece suscitar em nós o desejo enquanto pulsão de vida. Inesgotável, aliás, pois tão logo alcançamos um objetivo, lá está ele novamente, o desejo, à luz do que parece um novo horizonte. Há aqui a possibilidade de criação da vida enquanto arte.
Nesse sentido, enquanto reflito sobre mim mesma, ou seja, quando olho para a própria interioridade, o que vejo é que há um rasgo cujo indizível me lança para uma espécie de aspiração para o infinito. Aliás, a ideia de felicidade parece estar mesmo ligada ao ideal de completude.
Mas será possível pensar o finito no infinito? Posso pensar que o infinito contém o finito? E o contrário: o finito contém o infinito? Neste ponto, Kierkegaard talvez afirmasse que “fazer contabilidade com uma grandeza infinita é impossível, pois calcular é exatamente tornar finito.”
Como, então, pensar o infinito sem recorrer alhures? Para a razão, esta questão parece mesmo um “escândalo”.
Por outro lado, talvez, paixão seja mesmo isto, quero dizer, perseguir entusiasmadamente os próprios sonhos distinguindo neles sua inexaurível fonte. Reconhecer os limites da própria razão pode ser, para alguns, escândalo, mas é também escolha.
Por outro lado, é preciso lembrar que a paixão, quando exacerbada, tem uma característica absoluta, quero dizer, egoísta, pois ela sempre exclui o outro. Sendo assim, ela oculta em si mesma a porção de sofrimento (toda paixão requer também o sofrimento) e se deixa ver apenas enquanto ideia de completude. Acaso quando nos apaixonamos o mundo inteiro não nos parece perfeito?
Enquanto reflito sobre mim mesma, meus sonhos, projetos e desejos, a liberdade parece mesmo possível, mas quando observo com sincera honestidade percebo que é ainda amor próprio unicamente. Ora, quanto as minhas próprias escolhas, já não tenho dúvidas de que sou e serei sempre responsável. Mas a liberdade, nesse sentido, pode tornar-se meramente unilateral. A questão que proponho pretende ir um pouco além, quero dizer, a possibilidade de liberdade diante do outro. A questão se torna complexa quando dou conta de que sempre há um outro que me interpela e que, por sua vez, também me faz responsável. É neste ponto que a questão da liberdade parece mesmo ficar enredada.
Pensar que há no outro a mesma dimensão de incomensurabilidade, algo que está sempre alhures, quero dizer, pressupor que há também no outro o mesmo desejo de infinito, faz questionar sobre a idéia que tenho da liberdade enquanto possibilidade.
O fato é que precisamos escolher e, mesmo que não saibamos, somos e seremos sempre responsáveis. A questão não é apontar aqui para o que seja “moralmente correto”, isto é, distinguir entre o certo e o errado, mas sim pensar a ação como uma questão de consciência. Não importa qual seja a escolha, seja ela uma decisão enredada, tolhida, ou ainda unilateral, será sempre uma possibilidade de liberdade.
Em que sentido, então, a liberdade enquanto possibilidade é mesmo sempre tolhida, embaraçada? Se a decisão é sempre individual, então preciso acreditar em uma “verdade”, mas se essa verdade é minha, em que sentido ela se torna individualista?
Aqui, podemos pensar no pressuposto kierkegaardiano de que “uma verdade que seja verdadeira para mim” soa meramente individualista quando retiramos dele a dimensão paradoxal, ou seja, essa aspiração que sentimos para o infinito, um desejo de plenitude que não cessa de se inscrever e que a razão não dá conta de pronunciar.
Nesse sentido, pensar a liberdade diante desse outro que inevitavelmente me interpela, parece requerer sempre um olhar de acolhimento. Acolhimento que somente é possível mediante um “recolhimento” inicial, pois a consciência do desejo que há em mim, já não me faz diferente do outro, ao contrário, sob este aspecto, somos exatamente iguais. E a igualdade está precisamente na dimensão incomensurável.

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