domingo, 8 de maio de 2011

Inversão: a grande ironia

No que se refere ao pressuposto ético que diz respeito aos direitos e deveres que são meus, hoje a lógica parece mesmo invertida: enquanto os outros têm deveres, eu tenho somente direitos...
A grande ironia é que sempre há argumentos em que penso não apenas justificar como também convencer os outros e até a mim mesma, “razões” que isentam da responsabilidade que também “deveria” ser minha (?!) ...
o grande impasse: eis aí um modo prático de tentar justificar meu ódio diante da própria impotência, talvez, daquilo que não sou capaz de dar conta. Aliás, desespero é mesmo isto, quero dizer, é quando não mais amando a mim, duvido de tudo, dos outros, do mundo e até de mim mesma... e ao duvidar de tudo acabo perdendo, quiçá tenha algum dia encontrado, a paixão.


Nas "Migalhas Filosóficas" Kierkegaard fala um pouco a esse respeito: "Mais il ne faut pas penser de mal du paradoxe, passion de la pensée: le penseur sans paradoxe est comme l'amant sans passion, une belle médiocrité." (Mas não devemos pensar mal do paradoxo, a paixão do pensamento: e o pensador sem um paradoxo é como o amante sem paixão, uma grande mediocridade (um tipo medíocre)".


KIERKEGAARD, Sören, Miettes Philosophiques; Oeuvres Complètes, ed. de l’Orante, trad. Tisseau, v. 7, p. 35

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