segunda-feira, 22 de março de 2010

Ludwig van Beethoven - The great opera

A Nona sinfonia, obra de música erudita do período romântico, foi a última dentre aquelas compostas por Ludwig van Beethoven.

Foi apresentada pela primeira vez em 7 de maio de 1824, em Viena, na Áustria. O regente foi Michael Umlauf, diretor musical do teatro, e Beethoven - dissuadido da regência pelo estado implacável de sua surdez - teve direito a um lugar especial junto ao maestro.
A Nona Sinfornia, foi a primeira na história a utilizar a voz humana, que figura no quarto movimento, com um coro e quatro solistas, sobre a poesia, modificada por Beethoven, do original de Friedrich Schiller "Ode an die Freude" (Ode à Alegria).

Importante ressaltar que a surdez pode ser compreedida como o aspecto trágico na existência de Beethoven. No entanto, a genialidade consiste precisamente pelo fato de que a surdez não o impossibilitou de se lançar para além do que ele próprio ouvia.

O vídeo a seguir, traz um fragmento do filme "O Segredo de Beethoven". Há, no filme, uma passagem em que Bethoven profere que provoca o senso estético quando: "abre a música ao feio, ao visceral... (...) Como apreciará o divino senão através de nossas entranhas... é em nossas entranhas que Deus vive e não na mente e nem na alma. Só teremos a cabeça nas núvens se antes pisarmos na lama."

Em relação à sua obra, no filme ele também afirma que: "Não é para se entender, é preciso vivenciar essas minhas obras. É uma nova linguagem que eu inventei para falar da experiência humana de deus... da minha experiência de deus."

Deixemos que a música, enquanto um dizer antes do dito, aponte para esse incomensurável que não se deixa pronunciar. A vida enquanto arte consiste na luta entre a alegria e a negação, a aspiração e o lamento, a vida e a morte.




Este desejo de completude que não cessa de se inscrever, pode ser pensado também sob a perspectiva de Nietzsche em “O Nascimento da Tragédia”.
Segundo Nietzsche, somente quando o compositor sabe exprimir na linguagem universal os elementos da própria vontade, a melodia está repleta de expressão, isto é, ela instaura algo. Nesse sentido, a arte dionisíaca, que nos fala Nietzsche, exerce alguns efeitos sobre os recursos apolíneos. Para Nietzsche, a música confere ao mito trágico a expressão do conhecimento dionisíaco, pois a música clarifica o mito. Vejamos o que ele nos diz:
(..) A música, em contrapartida, confere ao mito trágico uma significação metafísica tão penetrante e tão decisiva que, sem essa ajuda única, a palavra e a imagem teriam ficado para sempre impotentes para poder atingi-la. E é especialmente graças à música que o espectador da tragédia fica invadido por esse pressentimento de uma alegria suprema, para o qual conduz um caminho de ruína e de negação, de modo que acredita ouvir a voz mais secreta das coisas lhe falar inteligivelmente do fundo do abismo.(2006, p. 147)

Na compreensão de Nietzsche, a arte dionisíaca é captada mediante a possibilidade de significação proporcionada através da dissonância musical. Nesse sentido, a alegria primitiva presente em Dionísio é, diante da dor e do caos, a fonte geradora da música e do mito trágico. Podemos entender o modo como Nietzsche caracteriza os efeitos da dissonância na tragédia quando profere:
(...) Se entendemos finalmente, pois, o que significa, na tragédia, querer contemplar e ao mesmo tempo aspirar além dessa contemplação, esse estado necessitaríamos caracterizá-lo com relação ao emprego artístico da dissonância, a saber: Que queremos ouvir e ao mesmo tempo aspiramos para além do que ouvimos. Esta aspiração para o infinito, esse bater asas para além do desejo, no momento em que sentimos a maior alegria da clara percepção da realidade, nos relembra que nesses dois estados devemos reconhecer um fenômeno dionisíaco que, sempre e sem cessar, nos revela ao eflúvio de uma alegria primitiva no jogo de criar e de destruir o mundo individual, de maneira semelhante à Heráclito(...).” (2006, p.168)

Referências:

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, O Nascimento da Tragédia, Coleção Obras do Pensamento Universal, São Paulo, Editora Escala, 2006.

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