Um ano se passou e alguns poucos meses mais desde a tua partida para o
sono infinito. Extremamente claro e tão palpável como alguns dos momentos
tantos que vivenciamos juntas, esta noite sonhei contigo. Tu, agora, acordavas.
Ainda sonolenta sorriste para o meu sonho. Não era um sorriso de contentamento,
não; muito antes um sorriso doce e simples, ainda um tanto entorpecido. Tuas
primeiras palavras: “não estou lembrada de nada”. Nada? (pensei) de que “nada” ela quer me falar? Quis perguntar, mas não esbocei palavra. Tu sorriste e assim
permanecemos, por mais um instante, apenas nos olhando. Sorri para o teu dizer, retribuindo com afeto, o teu doce sorriso.
Procurei, num gesto rápido, te colocar numa posição mais confortável na
tentativa de encontrar, talvez, aquele teu jeito “com o braço sob a cabeça” como costumavas dormir. Mas havia ainda os teus
lábios (tão secos agora) sedentos e urgentes, tão breves e efêmeros tal como todos somos.
Água para beber, um sopro. Presença, escolhas tantas, um salto. Apenas alguns goles (pensei) para saciar a tua sede.
Serena, agora, como convém aos mortais ou quem sabe ainda somente alhures,
novamente sorriste para o meu sonho e voltaste a dormir o teu sono infinito...
Esta noite sonhei contigo...