quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Pathos

Acredito no pressuposto de que pathos  somente existe na imperfeição que nos é própria. Nesse sentido, a ironia consiste precisamente no fato de que a nossa possibilidade amorosa  ampara-se sempre numa certa harmonia entre pathos  e  cômico. Aqui, minha concordância com Sören, quando da sua afirmação:
A existência mesma, o existir, é esforço, e é tão patética quanto é cômica; patética porque o esforço é infinito, i.e, dirigido ao infinito, é um processo de infinitizar, que é o mais elevado pathos; cômica porque o esforço é uma auto-contradição. (Pós-Escrito, Kierkegaard)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

PACIÊNCIA - Chronos ou Kairos?

Necessariamente estamos todos submetidos ao aspecto quantitativo do tempo (Chronos) que em grego significa a duração de um movimento, o nosso tempo medido, cronológico. Os gregos da Antiguidade expressavam o tempo com duas palavras: Chronos e Kairos. A partir da modernidade, no entanto, impregnados pelo espírito mecanicista esquecemos de que Kairos significa o tempo da oportunidade, o tempo em potencial, eterno. Nessa pesrpectiva, esta melodia composta por Lenine e Dudu Falcão é uma excelente possibilidade de pensar sobre estas questões:
  


Enquanto condição da existência o tempo parece mesmo exigir demasiada pressa e afobados já não pensamos, nos tornamos impacientes e egoístas; aliás, é preciso estar atento, pois todo individualismo provoca uma espécie de cegueira. E ainda insistimos em acreditar que essa aparente “normalidade” é indissociável ao humano. Perdemos com essa irreflexão o significado do instante em que algo “especial” pode acontecer. No entanto, como nos diz a melodia, é preciso “um pouco mais de paciência”, pois parece que ninguém quer mesmo saber; pensar? nem pensar. Demasiada é a pressa. E assim contamos os dias que se tornam medíocres e simplesmente passamos pela vida com o sabor amargo do desencantamento do mundo. Sem o outro não há a possibilidade de acontecer algo que realmente importa. Tornamo-nos Sísifos a experimentar o absurdo da existência dia após dia. Mas há algo que clama insistentemente em nossa interioridade. Esse clamor é kairos, o tempo do possível, cujo murmúrio emerge de nossos próprios abismos como um sopro qualitativo. Aqui a qualidade significa que não basta saber sobre a incomensurável fluidez do tempo que sempre e inevitavelmente nos escapa. É preciso antes compreender que a vida é preciosa demais para evitar instantes que podem se tornar plenos de sentido. É na quietude que descobrimos que sem o acolhimento para com o outro não há a possibilidade de tais instantes, pois nos tornamos como as solitárias e indivisíveis mônadas. Diante da efemeridade da existência reconhecemos agora que junto aos dias simplesmente quantitativos podemos também “praticar” instantes que se eternizam. É a consciência da facticidade humana que agora emerge em nós como um sussurro e faz brotar o instante indeterminado: o instante em que as coisas que realmente importam acontecem. Aqui a “oportunidade” está justamente no modo como escolhemos. Eis aí uma possibilidade de sentido, um novo olhar em que Chronos (tempo) pode ser também Kairos (eternidade).

sábado, 24 de setembro de 2011

L’ironie est l’antidote

[...] L’ironie nous immunise contre La déception ; elle est l’antidote des fausses tragédies, la conscience que nulle valeur n’épuise toutes les valeurs ; elle lutte contre l’inertie des sentiments qui s’attardent, deviennent formule ; elle rapelle à l’ordre les douleurs qui s’éternisent et prétendent être totales, c’est-à-dire désespérées; elle est donc, en même temps qu’une grande consolatrice, un principe de mesure et d’équilibre... [...] mortelle au pédantisme maniaque et à toutes les unilatéralités de l’esprit, elle forge des âmes harmonieuses, divisées, multilatérales qui veulent pour centre non plus un vice, mais une valeur vraiment essentielle. [...] l’ironie nous demandera résignation, patience et três commune bonne humeur. C’est que nous ne sommes pas des anges. Il y a dans chaque instinct, dans chaque passion de quoi nous briser le coeur... (JANKÉLÉVITCH, p.164)

domingo, 11 de setembro de 2011

Medo

Não tenho medo do medo.

Medo é o que sinto diante de um fato já vivido, mas a angústia, ao contrário, grita aqui dentro.
É que as tuas dores impronunciáveis são tão idênticas as minhas...
Não fosse a ausência mesma,
condição: aceitação e reconhecimento dela,
a humana falta...
É que esse meu vazio que não dou conta de pronunciar nos faz agora idênticos, quiçá semelhantes...
Estou incomensuravelmente tão próxima ao indizível mesmo que há em ti que já não temo o medo que é próprio.
Medo é fato já conhecido, experienciado.
Mas a angústia, ao contrário, insistentemente grita aqui dentro...
Como que diante de um precipício quero saltar, mas não apreendo a fundura... vertigem é o que sentimos, afirmava Kerkegaard. Mas há ainda o desejo.
Desejo é paixão de futuro, sempre alhures, necessariamente contingente. Nela, contingência, encontro o horizonte que me faz livre. Desejo agora, senão os instantes contados em que me lanço para os braços do meu possível. Sem o outro, entretanto, você mesmo que me olha, não sou...

nada.


Contudo,
[...] “é preciso recordar a cada instante que a diferença é um disfarce.” (Kierkegaard, p.111)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011